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terça-feira, 5 de julho de 2022

 TRIBUTO À NORA LAM 


A expressão “Um Dia de Cada Vez” me marcou. Vi o filme “China Cry”. O texto que escrevo abaixo é inspirado no sentido desta expressão, usada por Nora Lam – cujo nome verdadeiro é Sung Neng Yee no filme. Ela escreveu o livro que detalha sua vida, que transcorreu desde a infância até a idade próxima dos 27 anos, em um dos piores regimes autocráticos que o mundo já conheceu – o da China. Ainda que se arvore como uma nação comunista digna de admiração.  Entretanto, tolhe totalmente, tanto as liberdades de expressão como a de ir e vir à população. Além disso, o regime comunista chinês, vive descaradamente dentro do sistema capitalista, desde os anos 50.

Quanto à extraordinária pessoa chamada Sung Neng Yee – Nora Lam, na condição de professora de Direito na China, mesmo formada com louvor, foi perseguida durante o governo autoritário de Mao Tse-Tung. Tudo inicia com seus pais, quando, ainda menina, são obrigados a abandonar a pé, por escolta armada, a confortável casa que residiam em Beijing, na China. Seu pai médico não aderiu ao regime, e por esta razão passou a a lavar o chão do hospital. Assim foi, até que morreu devido a uma hemorragia. Foi inscrito como “voluntário” em testes que buscavam uma vacina para gripe, no próprio hospital que trabalhara desde jovem.

Paradoxalmente, a lavagem cerebral contra a “acumulação burguesa” continua... Tanto é assim que quase na década de 90, um tanque passou sobre o corpo de um jovem universitário, que de braços abertos mostrou ao mundo a covardia do regime chinês. As telas de tevê no mundo inteiro repercutiram o ato de truculência. Para os chineses, ao que parece, foi quase uma capitulação para o poder, na prática, quase absoluto das armas... A Anistia Internacional denuncia perseguições e mortes. É tão assustadora a crueldade do governo chinês atual que a violência contra a população é deliberada, sem limites. Impressionantemente inquestionáveis, as comitivas governamentais, sem embaraços fizeram a China atravessar o século XXI travando negócios com as “democracias” ocidentais. Todos somos cientes de que a geopolítica, principalmente no que tange ao comércio, ignora, propositalmente, claro,  o conceito de direitos humanos.

No filme, há um evento que se configura em milagre, já que é levada, grávida, após três dias de interrogatórios ao pelotão de fuzilamento porque, ainda que hesitante não nega ser cristã. Os soldados são cegados por uma fortíssima luz e atiram a esmo. O capitão atribui o evento a um raio... Nenhuma bala a atinge.

Como escritora, em Hong Kong, adotou o nome de Nora Lam. 

Vale lembrar o fato de que Sung Neng Yee – Nora Lam não é ainda, de fato, uma típica cristã no início de sua prisão, mas começa a lembrar de sua vida de menina rica, que estudava em colégio de freiras, e sua formação em universidade cristã. A meu ver, passou por algo que se assemelha espiritualmente à experiência de São João da Cruz na prisão – que, no caso do santo carmelita descalço, lhe deu suporte para escrever “Noite Escura da Alma”.

Assim, era obrigada a escrever à mão relatórios sobre detalhes elementares sobre sua educação, familiares, marido, etc., durante o dia, sem alimentação (mesmo grávida). Somente quando pede água, alguém dá uma fria ordem de autorização. Sem água poderia morrer, o que, certamente, impediria o regime de obter informações sobre o crescimento do Cristianismo na China. O raciocínio era de que cada cristão devia viver o bastante para compor dossiês...

No filme, há um evento que se configura em milagre, já que é levada, grávida, após três dias de interrogatórios ao pelotão de fuzilamento porque, ainda que hesitante não nega ser cristã. Os soldados são cegados por uma fortíssima luz e atiram a esmo. O capitão atribui o evento a um raio... Nenhuma bala a atinge.

Nora Lam relatava à exaustão seu “passado” de educação cristã, após noites dormidas no chão da sala de aula. Acredito que passou por uma verdadeira jornada espiritual (a mãe e o pai não eram cristãos), e esta solidão absoluta lhe deu forças, em meio a reminiscências de fundo cristão, a mergulhar no aprofundamento de sua fé. Noites escuras no aprisionamento se intercalaram por quase sete anos na vida que levava com seu marido (não chinês), o filho pequeno e a mãe em uma favela. É difícil de acreditar, mas foi enviada a um campo de concentração (para quebra de pedras e transporte em cestas), mesmo grávida do terceiro filho... Ambos sobreviveram, o que é surpreendente.

De temperamento forte, insistiu no envio de várias cartas para Mao Tse-Tung, em que pedia para levar o filho para conhecer os avós (com cerca de cinco anos) em Hong Kong. Seu marido lá nascera e fora expatriado com a filha pequena. Inteligentíssima. Sua intenção, na verdade, a pretexto de ”usufruir” da licença-maternidade prevista nos estatutos comunistas, era ter seu terceiro filho fora da China e, obviamente, não voltar. Talvez porque não morrera, e era letrada, o governo preferiu se ver livre dela e do filho. Certo dia, veio uma autorização. O marido, na fronteira de Hong Kong, está à espera com a menina que já caminha. Nora Lam leva o filho pela mão. Quanto à sua mãe viúva, algum tempo depois ela se junta à família em Hong Kong. Milagres continuam acontecendo...

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Sinopse

"China Cry"

Saga real de Sung Neng Yee – conhecida no mundo ocidental como Nora Lam - uma professora formada com louvor em Direito, em universidade chinesa, na década de 70. Foi perseguida juntamente com sua mãe e pai médico, que passou a lavar o chão do hospital durante o governo autoritário de Mao Tse-Tung. Na perspectiva comunista (infelizmente, ainda vigente) foi submetida a vários maus-tratos físicos e psíquicos (mesmo grávida), tão somente por ter recebido educação católica e presbiteriana, ou seja, cristã.

Escreveu o livro de sua vida, o que nos impele a pensar na perseguição aos cristãos chineses, tanto no antigo quanto no atual regime ditatorial e sanguinário vigente há mais de meio século na China.

Dados técnicos: Filme em VHS - “China Cry – O Grito de Nora Lam – 1991 (Produção: Parakletos; com Julia Nickson Soul, Russel Wong e James Shiguetta). América Vídeo Filmes. Grupo Paris Filmes.

UMA FONTE LÍMPIDA

Após um longo tempo - cá comigo, penso que talvez tenha feito um "retiro no deserto", ainda que forçado - retorno, e me alegro por isto. Também me causa contentamento o fato de que alguém tenha curiosidade de acompanhar-me nesta jornada interior,  que, no entanto, é partilhada. Andei por trilhas perigosas na minha mente, estradas solitárias que me levaram à essência de meu viver, vi bosques, paisagens reconfortantes. Boa parte destes caminhos foram encontrados virtualmente; outros pisei o chão, senti o vento frio e forte em meu rosto, as ondas do mar abençoaram minhas mãos, tocaram meus pés com carinho, enfim, respirei o ar da opressão, mas também senti a brisa tocar minha pele e aspirei sua leveza...

Não quero ficar muito tempo sem vir aqui nesta fonte. Todos precisamos de uma fonte  - ao menos olhar uma delas... Sei que o que alimenta minha alma não tem cor, forma, não tem peso, e é uma fonte límpida, que substitui minhas lágrimas - que desaparecem, desanuvia minha mente e me lança para o futuro. Irrepetível. Deus e nada mais. 

PODEMOS VIVER NO TUMULTO E TER PAZ INTERIOR?

Nada é mais importante que a paz interior. Há um mistério aqui. Acredito que ela é feita de renúncia, ainda que nada nos seja garantido se assim nos posicionarmos diante da vida. É como a fé: é dom alcançado pelo Criador. Ou seja, apenas somos partícipes dessa doação, desse dom, tão somente pela abertura, pela busca de paz interior, pelo anseio de transcendência. Ainda assim, conviveremos com provações, tribulações, todo tipo de angústias. A diferença se dá entre ver as coisas pela ótica da Fé ou não. A isto eu chamo sensatez.

http://www.mosteirotrapista.org.br/vida_trapista.htm

 

 CULTO AO EFÊMERO

O mundo mudou rapidamente a partir da década de 90. Ao chegarmos ao ano de 2000, é como se todos tivessem combinado: agora tudo ficará em suspensão moral. O conceito de pós-modernidade que já estava em curso desestabilizou as bases de valores que não negociamos em nossas vidas, se temos por foco a própria dignidade. Isto é básico hoje: a cultura da superficialidade, tal como um culto, uma linguagem. Se não nos afirmamos, mostrando-nos como "cabeças" pós-modernas (ainda que seja ainda difusa, até confusa a assimilação do conceito), as conexões desparecem diante dos nossos olhos... Em suma: ficamos à parte. Não eliminados; apenas extraviados... Isto porque o descompromisso é a tônica desta nova onda, desde novo "paradigma" que tenta se impor ao mundo atual.

Ao que parece, uma vida que dá uma falsa ideia de algo, desde que  tenha algum charme, ainda que "fake" é melhor que uma vida autêntica. O não-ser, que tão somente aparenta algo domina a cena. Nas artes, entre elas a literatura, a estética fala mais alto a linguagem do efêmero - como quem troca de roupa... Adaptações do clássico são perfeitamente aceitáveis.... O "hoje" é tudo. Simples assim.

ORAÇÃO


Eu não sou melhor que ninguém. É bom afirmar isto neste tempo em que as pessoas não se sentem afetadas por nada. E tem uma razão para isto: a superficialidade. Assim, somente quem é superficial, e se esforça para enganar a si próprio, é que nunca admite estar enredado em meio a várias dificuldades. Eu sou então uma pessoa que sabe admitir suas debilidades, limitações, e até mesmo... fracassos. Já me sinto melhor quando reconheço minha fraqueza, minha falta de forças para continuar. Estou pensando o dia inteiro que preciso rezar , me encontrar com Deus na oração. Aliás, pensar que vou encontrá-lo já deve ser algo abençoado... Não é pretensão porque todo tempo Jesus Cristo instou-nos a entrarmos em nosso quarto, meditar um pouco e dirigir preces ao Céu, a Deus que tudo vê e de tudo cuida.

O cuidado divino... Nada mais confortador. Se achega de mansinho em nossa mente e coração. Ele nos ouve; Ele pondera (porque nos deu livre-arbítrio) e encaminha as coisas para o melhor; para uma saída, para a solução possível, que beira o impossível, ou extraordinariamente, deixará de ser algo impossível... São vários níveis de "atendimento" carinhoso, piedoso com que o Criador nos agracia com sua Bondade e Onipotência. Lembremos que a oração é a porta aberta da Fé para o sossego de nossa alma.

Fica quieta minh'alma, e espera em Deus. Amém.

segunda-feira, 4 de julho de 2022

PRESENÇA NA AUSÊNCIA


Talvez eu esteja um tanto cansada... Já sentiram um cansaço interior, mas que não é desânimo? Ou talvez , uma tristeza difusa. Cansaço de um tipo que a realidade não pode disfarçar? Não desocupa o lugar... Penso que há um "Espírito da Misericórdia" que permeia tudo, senão sucumbiríamos - na escassez, na suficiência, e mesmo na fartura. Este Espírito, que acredito ser de Deus, o Criador, aponta-me o único Caminho - o da oração.

Lembro de Santa Teresa de Ávila em um de seus poemas, de memória: “Só Deus basta. Temor, cansaço, injúria, incompreensão, perdas, jamais nos dominarão(...)”. Suas palavras são tão densas que nos obrigam a um pedido de licença poética, já que nos damos conta que "compomos" seu poema com as palavras fora do lugar... Se escrevermos as sentenças fora da ordem com que fora dispostas , sempre evocarão mesmo sentido: viver é uma aventura cheia de perigos, concretos e psíquicos, mas Espírito de Deus cuida de nós como se fôssemos um pequenino pássaro, frágil e desamparado. afinal, seus pais cuidam dele até que possa voar. O Criador faz mais por suas criaturas humanas: já podem voar; já estão até cansados de tanto voarem (e caírem...). Ele repara suas "asas interiores" para a próxima estação... Até que chegue a hora do voo definitivo chegar...

Estará sempre à nossa volta, desde que permitamos que a nossa razão pressinta sua presença generosa. Para mim, a Divina Providência se mostra em várias situações, formas. Deus é poesia, é sutileza, é compreensão... Podemos vislumbrá-lo em um raio de sol inesperado que ilumina parte da cidade, ou que  adentra o parque, em um duplo arco-íris, ou então, na revoada de cinco ou seis pequenos pássaros azuis que tomam de repente galhos de uma árvore à frente de nossa sacada. Isto, de fato aconteceu: os passarinhos azuis, barulhentos, felizes, tomaram os galhos da árvore. Ficaram como que fixados em nossas retinas, tal como uma proteção de tela em nosso computador... Raros, em plena cidade, em um canto arborizado nos deram a "honra " de contemplarmos suas existências... Instantes privilegiado de um homem e uma mulher, unidos pelo amor, mas provados na dor do existir humano...

Também vi neste período difícil, um beija-flor que entendi na época, em minha mente e coração, ser como que um "mensageiro" de algo... Sua visita inusitada, já que pairava sobre o vidro da sacada que dava para nossa sala foi até perturbadora. acho que falei antes: quando alugamos o apartamento nos disseram que estava sem inquilino há mais de um ano. Ou seja, o beija-flor não viera conferir se o antigo dono colocara aquele frasquinho com água e açúcar. Só sei que sua visão ao fim da tarde parecia me avisar que seríamos libertados de um conjunto esmagador de coisas...

Por vários dias, no fim da tarde, após o por do sol, aparecia este ou outro beija-flor, que pairava no porta de vidro fechada (na metade), e instantes depois, se virava e ía embora.

Certo dia, meu marido, seu colega de universidade e eu jantávamos na nossa pequena sala de jantar. O colega estava de costas para a sacada, mas nós o vimos pela última vez. Nenhum vaso com flor; e como falei antes, nem mesmo há aqueles frascos com água açucarada para atraí-los, e além disso, o apartamento não era alugado há mais de um ano... Estranho, inusitado...

Não lembro exatamente, mas no outro dia ou no seguinte - naquela semana- em findaram as "visitas", tivemos várias definições que nos indicavam que devíamos tomar outro rumo. Descobri na internet uma saída daquela cidade. Feito o concurso, meu marido veio a lecionar em outra universidade que distava seis horas de onde morávamos.

Sofremos muitas decepções, isolamento, indiferença, tanto profissional quanto pessoal naquela cidade. O que ficou marcado além disso em nossas mentes? Saímos mais fortes em tudo, amadurecemos nossa Fé.

Naquela fase, isto é, da espera de uma "rota de fuga", em tudo percebi a presença de Deus. De minha parte, ia diariamente, no início da noite, rezar por uma hora, em honra ao Santíssimo Sacramento. Em seguida era celebrada a missa. Geralmente não ficava. Preferia no fim da tarde dos sábados. Meu marido após algum tempo passou a me acompanhar, de acordo com sua inspiração. Nada melhor poderia ter acontecido... Senti, no conjunto das coisas, que venceríamos todos os obstáculos. A Graça de Deus nos deus asas e voamos livres...

A esperança é logo ali... O canto dos pássaros, uma criança que dá os primeiros passos e, mesmo sem ter jamais me visto, faz um aceno que me acompanha e da calçada sorri. Eu, sem ninguém à minha volta no ônibus, sorrio encantada e lhe aceno. Ela continua seu gesto e eu também... Até nos perdemos de vista. Minha retina que viu esta "cena celestial", cristalizou tudo em minha memória. Agora vocês também poderão dizer que sentiram uma esperança real, viva , tal como eu, mesmo neste mundo de gentilezas artificiais... Penso comigo que tiveram vivências semelhantes às minhas. Me sinto bem por isto. Esta “gota de esperança” foi plenamente gratuita. Eu vivo para encontrá-la, seja onde for. Uma a uma. Até que o frasco de minha vida transborde... São gotas de esperança, mas podem ser também borboletas multicoloridas que pairam, dançam à nossa volta...

Ali, na quebrada da esquina, enquanto o ônibus não vem, ou na plataforma do metrô, enfim, no mais simples, no mais singelo evento encontramos uma gota de esperança, mas cheia de intensidade. Abramos nossos olhos, nossos corações, e passemos a "instruir" nossa razão para que volte a admitir, e melhor, a contemplar o bom e o belo...

Nosso coração aquece, nossa mente voa. Estamos vivos. Que ninguém nos roube a capacidade de ver e sentir o amor e a beleza que nos cerca – desde a contemplação de uma flor, do canto de um pássaro na janela do edifício, de uma borboleta que voa em plena avenida, e, com intensidade igual, que ninguém, nem me mesmo nós próprios, nos impeça de dar uma chance à vida.... Deus, quer admitamos ou não, envolve misteriosamente cada um de nós, cada semelhante que se mova pelo bem, afinal ninguém é perfeito... Há uma criança, um jovem, uma pessoa madura ou envelhecida que se aproxima... O fato é que está ali, próximo de nós, muitas vezes, está pronta para nos oferecer um sorriso, ou até falar de algo aleatório, por ser cordial. Também pode ser o caso de ter esbarrado em nós, e, na pressa, sorri como quem se desculpa... Um sorriso discreto, mas que aquece o coração...

VIDA INTERIOR 

Em nosso íntimo há uma correnteza, que como a imagem da palavra indica, nos agita, confunde, como se não tivéssemos um foco, uma meta. Mas isto é uma ilusão. Esta pressa interior é nossa ânsia de viver. Por esta razão, penso que não é um estado psíquico negativo, e sim, é a demonstração de que estamos vivos e que queremos algo mais que existir materialmente. Portanto, esta inquietação é, potencialmente, a evidência de nossa capacidade criativa, que nos leva adiante, suscita, nos lança para o que deve ser modificado, aprimorado ou criado em nossas vidas. A vida está aí... Ela não nos espera. Estamos agora, neste tempo, aptos a fazermos, criarmos, mudarmos coisas em nós próprios, no ambiente que nos cerca, na relação que temos com os que são companheiros de nossa jornada diária. Agarremos com determinação o tempo que nos cabe, sem medo. Podemos estar certos de que o puro amor, que é Deus, nos indicará os passos, suavemente.

 TRIBUTO À NORA LAM  A expressão “Um Dia de Cada Vez” me marcou. Vi o filme “China Cry”. O texto que escrevo abaixo é inspirado no sentido d...