TRIBUTO À NORA LAM
Quanto à extraordinária pessoa chamada Sung Neng Yee – Nora Lam, na condição de professora de Direito na China, mesmo formada com louvor, foi perseguida durante o governo autoritário de Mao Tse-Tung. Tudo inicia com seus pais, quando, ainda menina, são obrigados a abandonar a pé, por escolta armada, a confortável casa que residiam em Beijing, na China. Seu pai médico não aderiu ao regime, e por esta razão passou a a lavar o chão do hospital. Assim foi, até que morreu devido a uma hemorragia. Foi inscrito como “voluntário” em testes que buscavam uma vacina para gripe, no próprio hospital que trabalhara desde jovem.
Paradoxalmente, a lavagem cerebral contra a “acumulação burguesa” continua... Tanto é assim que quase na década de 90, um tanque passou sobre o corpo de um jovem universitário, que de braços abertos mostrou ao mundo a covardia do regime chinês. As telas de tevê no mundo inteiro repercutiram o ato de truculência. Para os chineses, ao que parece, foi quase uma capitulação para o poder, na prática, quase absoluto das armas... A Anistia Internacional denuncia perseguições e mortes. É tão assustadora a crueldade do governo chinês atual que a violência contra a população é deliberada, sem limites. Impressionantemente inquestionáveis, as comitivas governamentais, sem embaraços fizeram a China atravessar o século XXI travando negócios com as “democracias” ocidentais. Todos somos cientes de que a geopolítica, principalmente no que tange ao comércio, ignora, propositalmente, claro, o conceito de direitos humanos.
No filme, há um evento que se configura em milagre, já que é levada, grávida, após três dias de interrogatórios ao pelotão de fuzilamento porque, ainda que hesitante não nega ser cristã. Os soldados são cegados por uma fortíssima luz e atiram a esmo. O capitão atribui o evento a um raio... Nenhuma bala a atinge.
Como escritora, em Hong Kong, adotou o nome de Nora Lam.
Assim, era obrigada a escrever à mão relatórios sobre detalhes elementares sobre sua educação, familiares, marido, etc., durante o dia, sem alimentação (mesmo grávida). Somente quando pede água, alguém dá uma fria ordem de autorização. Sem água poderia morrer, o que, certamente, impediria o regime de obter informações sobre o crescimento do Cristianismo na China. O raciocínio era de que cada cristão devia viver o bastante para compor dossiês...
No filme, há um evento que se configura em milagre, já que é levada, grávida, após três dias de interrogatórios ao pelotão de fuzilamento porque, ainda que hesitante não nega ser cristã. Os soldados são cegados por uma fortíssima luz e atiram a esmo. O capitão atribui o evento a um raio... Nenhuma bala a atinge.
Nora Lam relatava à exaustão seu “passado” de educação cristã, após noites dormidas no chão da sala de aula. Acredito que passou por uma verdadeira jornada espiritual (a mãe e o pai não eram cristãos), e esta solidão absoluta lhe deu forças, em meio a reminiscências de fundo cristão, a mergulhar no aprofundamento de sua fé. Noites escuras no aprisionamento se intercalaram por quase sete anos na vida que levava com seu marido (não chinês), o filho pequeno e a mãe em uma favela. É difícil de acreditar, mas foi enviada a um campo de concentração (para quebra de pedras e transporte em cestas), mesmo grávida do terceiro filho... Ambos sobreviveram, o que é surpreendente.
De temperamento forte, insistiu no envio de várias cartas para Mao Tse-Tung, em que pedia para levar o filho para conhecer os avós (com cerca de cinco anos) em Hong Kong. Seu marido lá nascera e fora expatriado com a filha pequena. Inteligentíssima. Sua intenção, na verdade, a pretexto de ”usufruir” da licença-maternidade prevista nos estatutos comunistas, era ter seu terceiro filho fora da China e, obviamente, não voltar. Talvez porque não morrera, e era letrada, o governo preferiu se ver livre dela e do filho. Certo dia, veio uma autorização. O marido, na fronteira de Hong Kong, está à espera com a menina que já caminha. Nora Lam leva o filho pela mão. Quanto à sua mãe viúva, algum tempo depois ela se junta à família em Hong Kong. Milagres continuam acontecendo...
Escreveu o livro de sua vida, o que nos impele a pensar na perseguição aos cristãos chineses, tanto no antigo quanto no atual regime ditatorial e sanguinário vigente há mais de meio século na China.